Dólar fecha em R$ 5,92 com indefinição sobre política tarifária de Trump
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O dólar estava em trajetória ascendente desde então e chegou a renovar o recorde histórico para R$ 6,267, mas tem perdido ímpeto desde o início do ano. Na quarta (22), fechou abaixo da marca psicológica de R$ 6 pela primeira vez desde dezembro e, nesta sessão, chegou a encostar R$ 5,874 na mínima.
Mais do que a cena fiscal do país, de agenda esvaziada por causa do recesso parlamentar do Congresso Nacional, o que tem movido os mercados neste período são as perspectivas econômicas para o segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ele tomou posse na segunda-feira (20) e renovou ameaças de impor tarifas de importação a produtos da União Europeia e da China no início de fevereiro, bem como para os do Canadá e do México.
No entanto, a leitura dos investidores é que a política tarifária do republicano tem sido menos agressiva do que se esperava para os primeiros dias de governo, e o mercado pondera se as ameaças são bravatas políticas ou de fato planos concretos do presidente. Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais “injustas” de países parceiros.
Essa percepção norteou as operações na quarta-feira e levou o dólar abaixo do patamar psicológico de R$ 6 pela primeira vez desde o final do ano passado, quando esteve em uma sequência de disparadas em meio ao estresse fiscal do país.
“O movimento visto ontem não tem relação a novidades no cenário interno e no tema fiscal, mas, sim, no desmonte das expectativas sobre o governo Donald Trump, fazendo com que o mercado voltasse a procurar ativos mais arriscados”, avalia Marcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX.
A promessa de medidas mais protecionistas esteve no centro da campanha eleitoral de Trump. Segundo especialistas em comércio, a imposição de tarifas mais altas afetaria os fluxos comerciais, aumentaria custos e provocaria retaliações.
O principal temor, no entanto, é sobre o efeito na economia doméstica dos EUA. As tarifas têm potencial inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central do país) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. E, quanto mais altos os juros por lá, melhor para o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano crescem.
Com temores de um repique inflacionário por causa das tarifas, o dólar vinha acumulado ganhos em relação às demais moedas antes da posse do presidente. Na véspera, a retirada de investimentos na divisa norte-americana também fez os pesos mexicano, colombiano e chileno apresentarem ganhos firmes.
“Hoje, os ativos devem testar a resiliência vista de ontem, principalmente com foco nos movimentos ou nas falas de Donald Trump”, diz Riauba.
Em participação virtual nesta quinta no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Trump fez uma ode ao que chama de meritocracia, prometeu transformar os EUA na capital da inteligência artificial e das criptomoedas, eliminar dez regulamentações a cada regulamentação nova que implementar e cortar impostos no que enuncia como uma “nova era de ouro”.
“Minha mensagem para o mundo é simples: venha fabricar seu produto nos EUA que nós lhe daremos benefícios fiscais. Se você não quiser, o que é uma prerrogativa sua, você terá de pagar taxas para nós, cujas alíquotas variarão.”
Ele ainda disse que irá exigir a queda imediata da taxa de juros do país e que outras nações deveriam seguir o exemplo.
“Por mais que ele tenha adotado uma retórica agressiva, Trump não usou um tom de efetividade, como ‘vou tarifar tanto’, ‘quero fazer isso’, ‘vou fazer aquilo'”, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Ele também pondera que o real “tinha muita gordura para queimar” desde o estresse causado no final do ano passado por causa das incertezas fiscais.
“Mas essa queda não é sustentável. Veremos provavelmente alguns ‘voos de galinha’ até que o governo apresente um plano crítico para endereçar a agenda fiscal. O governo tem fracassado em dar sinalizações claras sobre o que pretende fazer.”
É uma visão compartilhada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do BC (Banco Central), Mario Mesquita.
Em entrevista à Folha, em Davos, disse que o valor justo para o dólar é R$ 5,70, mas, para voltar a esse patamar, visto pela última vez há três meses, é necessário que o governo tenha uma ação fiscal forte, que reforce o arcabouço fiscal e demonstre seu compromisso.
“Esse é o momento de reforçar o arcabouço fiscal, não de enfraquecer. Acho que para recuperar a credibilidade, a confiança, às vezes você precisa fazer um ato mais emblemático”, disse.
“O que a gente tem sugerido é que o arcabouço, na verdade, deveria ser reforçado com um limite de crescimento de 1,5%, e não de 2,5%. E a gente também apresenta várias medidas que poderiam ser contempladas, que têm a ver com a rigidez do processo orçamentário brasileiro, da execução fiscal no Brasil.”
Já para os próximos dias, a expectativa é sobre uma série de decisões de bancos centrais. Na sexta-feira, o Banco do Japão inaugura a sequência de reuniões sobre juros, e a autoridade japonesa poderá voltar a subir sua taxa.
Na quarta-feira, será a vez do Fed e do BC (Banco Central) brasileiro. Da ponta norte-americana, as apostas majoritárias são em uma manutenção dos juros na banda atual de 4,25% e 4,5%. Já na ponta doméstica, o Copom (Comitê de Política Monetária) já havia antecipado que a taxa Selic, agora em 12,25% ao ano, terá aumentos de 1 ponto percentual neste mês e em março.
Na quinta, o BCE (Banco Central Europeu) encerra a bateria de decisões mais relevantes para o mercado. A expectativa é por uma redução nos juros.
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