Hábito de leitura: veja qual a importância deste hábito para a saúde do cérebro
O contato com os livros é importante desde os primeiros anos da infância até a vida adulta.

Praticamente às vésperas do Dia do Livro, comemorado em 23 de abril, dados recentes sobre o hábito de leitura não são nada animadores. A última edição da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", realizada em novembro do ano passado pelo Instituto Pró-Livro, apontou que 53% dos entrevistados não leram nem mesmo parte de um livro nos três meses anteriores ao levantamento.
Entre os leitores que responderam à pesquisa, 75% afirmaram que gostariam de ter lido mais e, desse percentual, 46% destacaram a falta de tempo como a maior barreira para não conseguir incluir o hábito da leitura no dia a dia.
Cognição
Desenvolver a prática da leitura nos primeiros anos de vida, e cultivá-la durante a fase adulta, é primordial para o bom funcionamento do cérebro ao longo da vida. O médico neurologista José Gustavo Leimig explica que, quando criança, o hábito da leitura exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo.
“Durante a infância, o nosso cérebro está em pleno desenvolvimento. A leitura, neste período, é fundamental para desenvolver as nossas funções cognitivas como linguagem, memória, raciocínio, entre outras habilidades intelectuais, que serão imprescindíveis para toda a nossa vida”, destacou o médico.
De acordo com o neurologista, quanto mais cedo a criança for incentivada a ler, mais naturalmente o hábito será incorporado à sua rotina.
“Quanto mais precocemente for iniciado o hábito de ler, nosso cérebro ficará condicionado, de forma natural, a incluir a leitura na rotina diária. É bom ressaltar, porém, que, como todo hábito, é necessário treinamento, prática e disciplina para obtenção dos melhores resultados”, ressaltou o neurologista.
Exemplo
O supervisor pedagógico do Sesc de Santo Amaro, Dom Bruno Lira, acredita que a família tem um papel fundamental no estímulo para a formação de novos leitores. Os pais ou responsáveis precisam dar o exemplo dentro de casa.
"A família é fundamental. Tem que ter em casa uma pequena biblioteca. A criança tem que crescer vendo que os pais também são leitores. Se a criança cresce nesse contexto, isso dá ânimo e também ter uma variedade para a pessoa ler o que interessa", opina.
Começa cedo
Hiago Lucas, de apenas 11 anos, é um exemplo desta visão do supervisor pedagógico do Sesc. Ele estudou na escola da unidade e desenvolveu o gosto pela leitura com a observação dos familiares, principalmente seu irmão mais velho.
“Comecei a ler por causa do meu irmão e dos meus pais. Desde que eu era pequeno, frequentava a biblioteca porque estudei no Sesc de Santo Amaro por sete anos. Desde pequeno, vinha com meu irmão ao final das aulas”, comenta Hiago.
De acordo com o jovem, a leitura foi fundamental para melhorar na área da comunicação. "Quando eu era menor, não conseguia falar uma palavra sem rir. Atualmente eu consigo falar sério. Também me ajuda a escrever”, explicou.
O pai de Hiago Lucas, Livingstone da Silva, fala com orgulho deste caminho seguido pelos dois filhos. O pastor não teve muito contato com a leitura na infância, mas desenvolveu o hábito na fase adulta.
“É um motivo de orgulho. Acho que o essencial para o mais velho foi sempre me ver lendo livros e esses livros expostos. Como conselho aos pais, eu poderia dizer que, ainda que você não goste de ler, tenha livros em casa. Incentive seu filho”, orienta.
Neuroplasticidade
Além da introdução durante a infância, é fundamental que o hábito da leitura continue na fase adulta. Em muitos casos, a rotina agitada pode dificultar o desejo das pessoas de consumir literatura.
"Todos nós temos muito o que fazer, mas acho que precisa de uma disciplina. Precisamos estabelecer horas de leitura. Não precisa ser algo longo, pode ser dez minutos diários com a literatura que você gosta. Isso vai internalizando", explicou Dom Bruno Lira.
Do ponto de vista clínico, o neurologista José Gustavo Leimig destaca que a leitura também tem impacto direto na saúde do cérebro ao longo da vida.
“Naturalmente, o cérebro, assim como qualquer outro órgão do corpo humano, após atingir a idade adulta, inicia um processo de ‘envelhecimento’. Há poucos anos, achava-se que as células cerebrais não podiam ser substituídas. Atualmente, porém, já está estabelecida a existência da 'neuroplasticidade', que, de forma simples, pode ser explicada como a capacidade do nosso organismo tem de criar novas células cerebrais, em qualquer fase da vida”, afirmou o especialista.
Segundo o médico, manter o hábito da leitura na vida adulta é um dos fatores que estimulam a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de criar novas conexões neurais.
“Sabe-se que algumas doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, apesar de não haver atualmente uma forma objetiva de serem prevenidas, podem ter seus impactos minimizados por bons hábitos alimentares, exercícios físicos de forma regular, sono de qualidade e estímulos intelectuais, sendo a leitura um dos mais importantes destes estímulos”, destacou Leimig.
Onde ler?
A busca pela leitura pode ser feita de forma gratuita. No Recife, o principal equipamento é a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, localizada em Santo Amaro, área central da Capital pernambucana. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h45, e aos sábados, das 9h às 13h. O acesso é livre, bastando realizar um cadastro com apresentação da identidade, do CPF e do comprovante de residência para retirar livros por empréstimo.
Gerente do equipamento que recebe em média 120 pessoas por dia, Antônio de Moura considera que o atrativo do local é justamente ser um espaço de disseminação de cultura e os saberes de um modo geral, superando a ideia de ser apenas um depósito de livros.
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