Transporte Público da Grande Goiânia tende ao colapso após pandemia, diz especialista
Queda da demanda de passageiros que chegou a 48% na Grande Goiânia não deve ser recuperada.
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Sistema de transporte público da Região Metropolitana de Goiânia tende ao colapso em um cenário pós-pandemia, diz a Arquiteta Urbanista, Mestre e Doutora em Transportes, Érika Kneib. Para a especialista, a queda da demanda de passageiros no transporte público, que chegou a 48% na Grande Goiânia, não vai ser recuperada no período pós-pandemia.
Sem estratégia para mitigação de dessa perda, todo sistema tende ao colapso em um cenário de normalidade. Já que, segundo a especialista, os custos da rede de transporte coletivo da Grande Goiânia são remunerados basicamente pela tarifa do usuário pagante.
“Em um cenário de normalidade, após a pandemia, esse usuário que optou pelo veículo automotor individual não verá atrativos para retornar a usar os ônibus do trasporte público”, pontua a urbanista.
Neste caso, com a diminuição de quase metade de passageiros nos ônibus do transporte coletivo, a continuidade da rede de transportes coletivos nos moldes atuais se tornaria insustentável.
De acordo com Érika, a pandemia acabou por escancarar a maior parte dos problemas urbanísticos e o transporte das grandes cidades não ficou de fora.
Como enfrentar o colapso no transporte público e na mobilidade urbana
Erika Kneib afirma que o fator Mobilidade Urbana é complexo e não existe apenas uma única solução para seus problemas. No entanto, defende as possíveis soluções não são novidades e pressupõem planejamento atitude trabalho e investimentos. Segundo a especialista, não adianta haver planejamento, se as ações não forem executadas.
“Não é verdade que os problemas da mobilidade urbana em Goiânia são fruto de falta de planejamento. O atual Plano Diretor da Capital prevê inúmeras ações, investimentos e obras para melhoria da mobilidade urbana. No entanto, muito pouco do que está lá, foi feito”, revela.
Para a urbanista, o conjunto de medidas complexas para solucionar problemas na mobilidade urbana passam por quatro pontos:
1 – Priorização do pedestre e ciclista – Apesar de ser muito falado é pouco executado. Esta prioridade não é mera vontade política, mas cumprimento da legislação vigente.
2 – Valorização do transporte público – Passa pela infraestrutura e financiamento – A melhoria desse modal pode atrair os usuários que o deixaram. Também é Lei Federal e e consta no atual Plano.
3 – Ordenamento territorial – A melhoria da mobilidade depende 50% do transporte público e 50% da ordenação do território. Enquanto a Região Metropolitana for um território espraiado, com centros de empregos distantes das moradias, a mobilidade não terá solução. A resolução dos problemas passa pelo sistema de transporte compatível com ordenamento do território.
4 – Mais difícil: Desincentivar o uso dos transportes motorizados. É uma medida impopular, mas é justamente o freio do desenvolvimento da mobilidade. Isso precisa ocorrer de forma integrada e ao mesmo tempo.
Concentração de mobilidade em veículos individuais
Érika apresenta dados de uma pesquisa realizada em 2013 que confirma a concentração da mobilidade urbana em veículos automotores individuais no período pré pandêmico, na Grande Goiânia. De acordo com os dados apresentados, das viagens a trabalho feitas na Região Metropolitana de Goiânia, 35% eram realizadas por carros próprios, 32% de ônibus, 19% de moto e 2% de bicicleta.
Segundo a especialista em transportes, a concentração da mobilidade em veículos automotores individuais que causa tempo perdido em deslocamentos, congestionamentos constantes e alto número de acidentes já apontava para uma situação insustentável da mobilidade urbana e crise do transporte público coletivo na Grande Goiânia antes da pandemia.
“Antes estávamos em uma situação de crise, com o transporte público sendo preterido em relação ao carro e a moto. Agora, seguimos a tendência do colapso com a intensificação dessa migração no período pós-pandêmico”, conclui.
Cenário nacional
A especialista ainda defende que os problemas de mobilidade urbana no período pós-pandêmico não ficarão restritos a Goiás, mas estarão presentes em todas as grandes cidades do país. De acordo com a especialista em transportes, a queda na demanda de passageiros do transporte coletivo durante a pandemia ficou acima de 40% em todas cidades de médio e grande porte do país.
“A circulação de pessoas nas grandes cidades vai ficar ruim para todo mundo. As ruas vão ficar travadas para todos e não só para quem usa ônibus, mas também para quem usa carros ou motos”, pontua. O ciclo vicioso do aumento do número de carros e motos, faz crescer a queima de combustíveis fósseis, aumenta o número de acidentes e congestionamentos.
A Pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017 realizada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) apresenta dados que apontam uma visão geral de divisão modal diluída nos municípios brasileiros.
A pesquisa revela que no cenário pré pandemia, cerca de 45% dos deslocamentos nos municípios brasileiros eram realizados por ônibus do transporte público; 22% por carro próprio; 21,5% a pé e 4% de bicicleta.
Fonte Mais Goiás.
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