Enem dos Professores: candidatos avaliam a prova como cansativa e com conteúdos repetitivos
Cerca de 25 mil educadores goianos foram avaliados no último domingo (26). Inep garante que nenhum candidato foi prejudicado com intercorrências.
São 15 anos em sala de aula e Vânia Gonçalves, 49 anos, ainda continua buscando garantias como professora. “Fiz [a prova] para me preparar melhor para futuros concursos e também para testar meus conhecimentos”, afirmou. Foi assim que ela resumiu o motivo de ter encarado, no último domingo (26), a primeira edição da Prova Nacional Docente (PND) — avaliação que ficou conhecida como o “Enem dos Professores”.
Contratada na rede municipal de ensino de Goiânia, Vânia faz parte do grupo de 25.932 goianos que se inscreveram para o exame, entre 1.086.914 participantes em todo o país, segundo dados oficiais do Ministério da Educação. Aliás, é bom esclarecer que o PND não é um concurso público, mas funciona como um processo independente do governo federal para contribuir na seleção de professores nas redes públicas que aderiram (veja detalhes em seguida).
“As questões estavam todas dentro do que estudamos, mas foi cansativo. Textos longos, fonte pequena e uma redação fora da caixinha. Faltaram temas ligados aos direitos da criança”, contou após sair da prova, realizada na Unigoiás. Para ela, a PND é importante, mas desafiadora. “Acredito que não fui mal, mas o cansaço e o tempo curto atrapalharam. Mesmo assim, é um passo importante para valorizar quem está em sala de aula.”
Luana Martins, 23 anos, não concorda com a futura colega de profissão. Para ela, a prova se concentrou em poucos temas e deixou de lado o que se vivencia na sala de aula. “Foram questões muito mais técnicas do que da realidade prática que um professor vive”, comentou. Estudante do último semestre de Pedagogia esperava encontrar maior diversidade nas abordagens. “Vários assuntos como métodos de aprendizagem ativa, inteligência artificial e outros bem atuais ficaram de fora”.
Mais Professores
A PND faz parte do programa Mais Professores para o Brasil, iniciativa criada pelo governo federal para valorizar e qualificar a carreira docente – tanto na rede pública, quanto pública. A iniciativa reúne ações como o Pé-de-Meia Licenciaturas, a Bolsa Mais Professores e o Portal de Formação, com o objetivo de alcançar 2,3 milhões de docentes em todo o país.
Inspirada no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) das Licenciaturas, a prova será aplicada anualmente e poderá ser usada por estados e municípios como parte de seus processos de seleção de professores — seja como etapa classificatória, eliminatória ou complementar, além de ser etapa obrigatória para quem conclui um curso de licenciatura a partir deste ano.
Na visão de Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) e ex-conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE), a proposta é positiva — desde que mantenha a escuta ativa e o aperfeiçoamento constante. “Se bem conduzida, a Prova Nacional Docente poderá ocupar um lugar nobre entre as políticas públicas brasileiras: o de contribuir para que cada professor em formação seja reconhecido, acolhido e preparado para transformar, com conhecimento e empatia, a vida de milhares de estudantes.”
Em Goiás, 45 municípios aderiram voluntariamente ao exame, incluindo Goiânia, Anápolis e Catalão (confira a lista no final do texto). O governo estadual, entretanto, optou por não participar nesta primeira edição.
A prova teve duas partes, uma com 30 questões objetivas e uma discursiva sobre temas da docência com disciplinas de formação geral e 50 questões sobre o conteúdo de cada licenciatura de componente específico de cada área, totalizando 80 questões para serem resolvidas em 5h30 de duração. Além de uma pesquisa de avaliação sobre a própria prova.
Cansativa, mas bem contextualizada
O professor Wanderson Cândido, especialista em Conhecimentos Pedagógicos e Legislação Educacional, tem uma opinião um pouco diferente de Vânia sobre a prova. Para ele, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) – contratada pelo Inep para elaborar e aplicar a prova – acertou no conteúdo, mas exagerou na extensão da prova. “Os temas foram bem contextualizados, com tirinhas, charges e letras de música. O Inep acertou ao incluir debates sobre currículo, inclusão e educação indígena e quilombola. Mas a quantidade de textos e o tempo curto dificultaram muito”, analisa.
Ele ainda destaca o tema da redação — idadismo, o preconceito com base na idade — como relevante, mas pesado para um único dia de prova. “É um assunto importante, mas exigia mais tempo de reflexão. Talvez a prova devesse ser aplicada em dois dias”, comentou.
Aliás, o tema da redação gerou diversos comentários críticos nas redes sociais. Alguns candidatos afirmaram não saber o que o termo significava, outro questionou o porquê o assunto foi escolhido diante de tantos tópicos mais pertinentes em sala de aula.
O também professor Rodrigo Gondim, do curso Tese Concursos, reforça que o estilo do Inep exige preparo diferenciado. “Provas do Inep são completamente diferentes de um concurso tradicional e tem essa característica: textos longos, comandos extensos e mais de um tema em cada questão”, explica. Ele compara: “No Enade das Licenciaturas, em 2024, foram 63 questões. Agora, 80 mais uma redação. É muita coisa para cinco horas e meia.”
Para Gondim, o ponto positivo é que a avaliação conseguiu abordar boa parte dos conteúdos previstos no edital. “A PND foi coerente com o que prometia. Agora, precisa de ajustes no tempo e na logística”, conclui
Problemas na aplicação
Apesar do saldo positivo, candidatos de diversos estados relataram intercorrências durante a aplicação da prova: falta de salas suficientes no Rio de Janeiro, atrasos no início das provas em São Paulo, ar-condicionado em temperatura excessivamente baixa em Minas Gerais e falhas pontuais de organização. Em Goiás, não houve registros de incidentes graves.
Diante das queixas, o Inep foi questionado pela coluna Descomplicando e respondeu em nota afirmando que “assim que tomou conhecimento dos relatos de possíveis intercorrências, notificou a empresa aplicadora — Fundação Getúlio Vargas — para adoção das providências contratuais previstas; que a FGV realizou remanejamentos imediatos, buscando garantir atendimento a todos os candidatos; que os relatórios de avaliação estão sendo analisados minuciosamente para assegurar condições de equidade e pleno direito dos participantes; e que o Inep reafirmou o compromisso com a lisura de seus exames e garantiu que nenhuma participante será prejudicado”.
A partir de agora, os candidatos passarão pelas seguintes etapas:
Cronograma
Confira as próximas datas da primeira edição da Prova Nacional Docente:
- 28 de outubro: divulgação das versões preliminares do gabarito e do padrão de resposta da questão discursiva;
- 28 e 29 de outubro: período para recurso contra a versão preliminar do gabarito e do padrão de resposta da questão discursiva;
- 10 de novembro: resultado do recurso da versão preliminar e do padrão de resposta;
- 11 de novembro: divulgação final do gabarito e do padrão de resposta da questão discursiva;
- 25 de novembro: divulgação da correção preliminar da resposta da questão discursiva;
- 25 e 26 de novembro: recurso da correção da resposta da questão discursiva;
- 10 de dezembro: divulgação do resultado final da PND 2025.
Lista de municípios goianos que aderiram a realização da prova à PND:
Os municípios e estados tiveram até 15 de junho para manifestar a adesão para o ano de 2026. Segundo o Ministério da Educação, 1.508 redes de ensino municipais e 22 estaduais aderiram, o que corresponde a 81,48% dos estados. Apesar do governo estadual não se inscrever, 45 municípios se cadastraram:
- Água Limpa
- Águas Lindas de Goiás
- Alto Paraíso de Goiás
- Anápolis
- Bonfinópolis
- Cabeceiras
- Campestre de Goiás
- Catalão
- Chapadão do Céu
- Colinas do Sul
- Corumbaíba
- Cristalina
- Edéia
- Estrela do Norte
- Formoso
- Goiandira
- Goianésia
- Goiânia
- Ipiranga de Goiás
- Iporá
- Itapuranga
- Itarumã
- Jandaia
- Lagoa Santa
- Minaçu
- Montes Claros de Goiás
- Nerópolis
- Palmeiras de Goiás
- Palminópolis
- Paraúna
- Perolândia
- Pires do Rio
- Pontalina
- Porangatu
- Portelândia
- Sanclerlândia
- Santa Isabel
- Santa Rosa de Goiás
- Santo Antônio do Descoberto
- São Francisco de Goiás
- São João d’Aliança
- São Luiz do Norte
- Trombas
- Valparaíso de Goiás
- Vicentinópolis
- Vila Boa
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Com informações Mais Goiás.







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