Kiev amanhece sob bombardeios dois dias após ataque 'terrorista' contra campo de treinamento da Rússia

Kiev amanhece sob bombardeios dois dias após ataque 'terrorista' contra campo de treinamento da Rússia

A Rússia usou drones nesta segunda-feira para realizar ao menos cinco bombardeios em Kiev, dois dias após o que disseram ser um ataque "terrorista" contra um campo de treinamento que preparava voluntários para lutar na guerra. Ao menos três pessoas morreram na capital ucraniana durante a ofensiva, que novamente teve como alvo principal infraestruturas de segurança russa.

Segundo Anton Gerashchenko, assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, a Rússia teria usado drones explosivos fabricados pelo Irã que atingiram, entre outros pontos, a sede da empresa nacional de energia. De acordo com os Serviços de Emergência locais, há ao menos 18 pessoas feridas e duas soterradas.

 

O Ministério da Defesa Russo disse em um comunicado que usou armas de alta precisão e lançamentos de navios para atacar áreas militares e a infraestrutura energética ucraniana. Segundo o Kremlin, que não citou explicitamente a capital ucraniana, "todos os alvos designados" foram atingidos.

Vitaly Klitschko, prefeito de Kiev, disse que 28 drones foram vistos pela cidade, resultando em ao menos cinco ataques — além da sede da empresa energética, disse ele, outro alvo foi uma estação de aquecimento municipal. Os alvos foram escolhidos com o objetivo de atrapalhar o abastecimento de energia e a capacidade ucraniana de se aquecer às vésperas do inverno boreal.

Os alvos são similares aos do ataque maciço de uma semana atrás contra 12 regiões ucranianas, que mataram ao menos 19 pessoas — uma retaliação à derrubada de um trecho da ponte estratégica que liga a Península da Crimeia ao território continental da Rússia. Moscou classificou o incidente, cujas causas ainda são desconhecidas, como um "ato terrorista" ucraniano.

Contra serviços de emergência

 

O ataque contra a estação de aquecimento ocorreu em um dos lados da rua Zhylianska, em frente a um local onde havia ocorrido outro ataque cerca de uma hora antes. Segundo Kiev, trata-se de uma tática russa para matar equipes de resgate e serviços de emergência.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, fez uma declaração na cena de um dos ataques, um prédio de quatro andares na região central da cidade. Segundo ele, "essa é a face verdadeira desta guerra", e o ataque deixa claro que a Rússia quer "destruir o nosso país" e matar civis.

— O alvo é toda a infraestrutura energética da Ucrânia. É deixar nosso povo congelando no inverno — disse Klitschko. — Eles querem uma catástrofe humanitária.

O chefe do Gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, descreveu as explosões como "ataques de drones kamikaze". Nas redes sociais, ele disse que "os russos acham que isso os ajudará, mas essas ações mostram seu desespero".

Há também relatos de ataques contra Zaporíjia, uma das quatro regiões que o presidente Vladimir Putin anexou unilateralmente após referendos internacionalmente contestados no final de setembro. Os bombardeios forçaram mais uma vez a interrupção do fornecimento de energia para a central atômica homônima, a maior da Europa, de acordo com a empresa energética ucraniana, a Energoatom.

Os bombardeios mais recentes vêm no mesmo dia em que o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, anunciou que a "mobilização parcial" de reservistas na cidade terminará nesta segunda às 14h (horário local), pois a cidade cumpriu sua cota não especificada. Na semana passada, Putin havia dito que o processo terminaria até o fim do mês.

A mobilização foi anunciada também no fim de setembro, buscando cerca de 300 mil homens por todo o país. A medida veio após derrotas consecutivas impostas pela ofensiva ucraniana aos russos, que tiveram um forte impacto moral — o Kremlin, ainda assim, continua a manter o controle de cerca de 15% do território do país vizinho, equivalentes a 120 mil km².

 

Retaliação

 

Os ucranianos põem a culpa nos drones iranianos Shahed-136, do tipo kamikaze — ou seja, que mergulham do céu em direção ao seu alvo e explodem no impacto. Lançados de caminhões, eles têm uma asa triangular, carregam até 36 kg de explosivos e têm um alcance de até 2,4 mil km. Também são lentos e barulhentos, o que facilita sua detecção e abatimento, algo que os ucranianos têm conseguido fazer com algum sucesso.

Eles começaram a ser usado mais frequentemente pelos russos há cerca de dois meses, algo que analistas ocidentais afirmam poder ser um sinal de que Moscou enfrenta uma escassez de armas de alta precisão. São uma boa opção já que não são tripulados, ou seja, permitem ataques sem pôr em risco o contigente russo, já com problemas antes da mobilização parcial.

No início de agosto, quando foram detectados pela primeira vez no Nordeste ucraniano, eram usados mais nas linhas de frente. Nas últimas semanas, contudo, vêm sendo usado contra alvos mais distantes, contra infraestruturas energéticas e o que os ucranianos dizem ser alvos civis. Na quinta, por exemplo, ao menos seis drones Shahed-136 foram usados para atacar Bila Tserkva, a cerca de 80 km da capital. Outros seis foram abatidos.

Os ucranianos também usam drones, lançando mão dos turcos Bayraktar TB2 contra tanques e outros equipamentos militares russos. Os EUA também forneceram a Kiev drones kamikazes americanos, os Swtichblades.

 

Com informações Extra.