Família que comanda Instituto Onça-Pintada é famosa na web ao publicar rotina com bichos; local foi multado pela morte de 72 animais

Semad diz que desconhece fatos que levaram o Ibama a aplicar multa e que Goiás tem norma que permite exposição dos animais na internet. Valor foi de R$ 452 mil.

Família que comanda Instituto Onça-Pintada é famosa na web ao publicar rotina com bichos; local foi multado pela morte de 72 animais
Leandro Silveira, a esposa Anah e o filho Tiago Jácomo — Foto: Reprodução/Instagram

A família que comanda o Instituto Onça-Pintada (IOP), que foi multado em R$ 452 mil pela morte de 72 animais, é famosa na web por publicar vídeos mostrando a rotina com os bichos. Juntos, Leonardo Silveira e o filho, Tiago Jácomo, somam mais de 7 milhões de seguidores, com centenas de publicações no Tik Tok (vídeo abaixo).

A multa foi dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), após o órgão verificar as mortes dos animais por supostas negligências, em Mineiros, no sudoeste do estado. O órgão registrou óbitos de macacos, onças-pintadas, tamanduás, lobos, cervos e pássaros nos últimos seis anos.

O IOP alegou que as mortes foram por picadas de serpentes, ataques de outros animais, envenenamento e até infestação de pulgas. Leandro Silveira chegou a publicar um vídeo junto com a esposa Anah falando sobre as acusações que vêm sofrendo.

“Quem nos conhece, sabe o tanto que isso é injusto. O Ibama nunca esteve no instituto e não sabe como é a realidade do nosso trabalho”, diz Leandro.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que desconhece os fatos que levaram o Ibama a aplicar as multas e que nos dois últimos anos a pasta fez três fiscalizações no local e, em nenhuma ocasião identificou quaisquer fatos parecidos com o que o Ibama descreveu.

A Semad ainda informou que, até esta sexta-feira (26), não recebeu qualquer informação do Ibama sobre a fiscalização, e disse que a comunicação é imprescindível, uma vez que é o órgão competente por aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre no estado de Goiás.

O g1 solicitou nota ao Ibama, por e-mail, às 18h28 de sexta-feira (26), a fim de saber porque o órgão ainda não notificou a Semad e por qual motivo o IOP foi multado pela exposição dos animais na internet, e aguarda resposta.

Biólogo filma onças mergulhando e brincando em lago de instituto, em Mineiros

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Publicações

 

A família publica vídeos como: de onças nadando em tanques do instituto, de macacos, aves tamanduás e outros animais recebendo alimentos e da rotina que eles têm com os bichos diariamente.

“Temos mais de 30 anos de vida profissional como biólogos. Nosso criadouro está sob a tutela do estado de Goiás e da fiscalização. As multas foram aplicadas até por postarmos vídeos explicativos sobre os animais”, disse a esposa, Anah.

A Semad ainda informou que Goiás possui a Instrução Normativa n° 01/2021, que permite o uso da imagem dos animais, já que a divulgação não acarreta um prejuízo ambiental. "A população em geral, por meio de materiais jornalísticos, educativos, informativos, nos quais são veiculadas imagens de espécimes animais, conhece, instrui-se e, consequentemente, multiplica a informação sobre a importância dos mesmos. Todos devem conhecer para preservar", disse o órgão.

Denúncia

De acordo com o Ibama, os registros de mortes superaram em 3 vezes a quantidade de nascimentos. Os cálculos feitos pelo instituto mostram que o IOP tem atualmente 109 animais sob guarda. Ou seja, considerando-se os anos avaliados, no total, o criadouro perdeu cerca de 70% de seu plantel que foi reposto com recebimento de animais, já que a reprodução no mesmo período se resumiu a 37 animais.

"Portanto, de forma indubitável, seja por negligência ou imperícia, a condução de procedimentos adotados no Instituto Onça-Pintada resultou na morte de, ao menos, 72 animais de 2017 a 2021", diz o laudo do Ibama.

Registros de mortes por ano por suposta negligência:

  • 2021: 4 animais
  • 2020: 35 animais;
  • 2019: 2 animais;
  • 2018: 5 animais
  • 2017: 26 animais.
  • Destes, 52 mortes foram de espécies ameaçadas de extinção e 20 de espécies não ameaçadas.
  • O Ibama não registrou mortes em 2022.

 

Nota do Instituto Onça-Pintada

 

O Instituto Onça-Pintada (IOP) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, fundada em 2002, por nós, biólogos Dr. Leandro Silveira e Dra. Anah Tereza de Almeida Jácomo, que dedicamos nossa vida inteira à conservação da onça-pintada. Desenvolvemos pesquisa científica nos cinco Biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Mata Atlântica).
Somos amplamente reconhecidos pelas boas práticas no manejo e nos cuidados com os animais sob nossa responsabilidade. E sempre adotamos todas as medidas necessárias para a sua segurança. Inclusive recepcionamos animais do Ibama para recuperação e tratamento. Em 12 anos de atuação como Criadouro Conservacionista, nunca houve qualquer multa ou sanção administrativa ao Instituto.
Dessa forma, foi com surpresa que recebemos as aplicações de multas no mês de junho emitidas por um fiscal do Ibama que nunca esteve presencialmente nas nossas instalações e que baseou suas conclusões nos dados que nós mesmos reportamos aos órgãos competentes, de forma constante, transparente e detalhada. Somos amplamente reconhecidos pelas boas práticas no manejo e cuidados com os animais sob nossa responsabilidade. Sempre adotamos todas as medidas necessárias para a segurança dos animais. Inclusive recebemos animais do Ibama para recuperação e tratamento.
Cabe ressaltar que o empreendimento e as suas instalações contam com a supervisão e autorização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD), órgão ambiental competente e que fiscaliza constantemente as atividades desenvolvidas pelo IOP.
Infelizmente, com as sanções fixadas pelo fiscal, as atividades do instituto serão prejudicadas. Entretanto, apresentamos nossa defesa preliminar ao Ibama e estamos confiantes na reversão das sanções, pois sempre executamos nosso trabalho com seriedade, zelo e amor aos animais.

Com informações g1 Goiás.