Enem 2021: tema da redação é 'invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil'

Informação foi divulgada pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, no início da tarde deste domingo.

Enem 2021: tema da redação é 'invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil'
A redação é uma das provas mais importantes do Enem, dizem os educadores Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

Após um clima de incertezas sobre se o tema da redação da edição 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teria ou não algum caráter ideológico, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, divulgou pelo Twitter, pouco antes das 14h deste domingo, o assunto que será desenvolvido pelos estudantes este ano:"Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil".

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A escolha foi elogiada por professores de redação de colégios do ensino médio e cursos pré-vestibular, que ressaltaram a importância social do tema e as possibilidades de caminhos para a argumentação no texto.

Professores da Plataforma AZ analisaram o tema de Redação em uma live feita em parceria com o GLOBO. Veja abaixo:

— Achei o tema interessante, apesar de não ter surpreendido na esteira de outros temas. O debate sobre o fato de muitas pessoas não terem acesso a documentos e ao registro civil não é obscuro. Talvez não seja tão popular quando outros que já caíram no Enem, mas é um debate que vem crescendo ao longo do tempo, sobretudo porque, com frequência, há ações do governo de registar estas pessoas. Criou-se um clima de insegurança eansiedade por conta das falas do governo, mas a verdade é que o tema veio confirmar que o Enem tem essa vertente de fato social e preocupada com as questões relativas à igualdade, à liberdade e à justiça — opina David Gonçalves, professor e coordenador de redação da Plataforma AZ.

Marina Rocha, também professora de Redação do AZ, observa que há uma falta de percepção sobre o problema, que poderia ser trabalhada pelo aluno:

— Esse tema pode parecer um pouco surpreendente diante do contexto de incertezas que a gente estava tendo, mas, na verdade, ele se apresenta na mesma lógica que os anos anteriores, em que a gente teve um problema social. Não se trata necessariamente de um tema difícil, mas também não é uma discussão fácil, pois ela é bastante invizibilizada — diz.

Enem 2021:

Estudantes universitários, voluntários do curso pré-vestibular gratuito Força Jovem Universitária, mostram cartazes de estímulos aos candidatos. Foto de Márcia Foletto Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Estudantes universitários, voluntários do curso pré-vestibular gratuito Força Jovem Universitária, mostram cartazes de estímulos aos candidatos. Foto de Márcia Foletto Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Ativistas fazem protesto na entrada do Enem, na Uerj do Maracanã Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Ativistas fazem protesto na entrada do Enem, na Uerj do Maracanã Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Voluntários levam mensagens de incentivo para quem vai prestar o exame Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Voluntários levam mensagens de incentivo para quem vai prestar o exame Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Uma das primeiras candidatas a chegar à sede da Universidade Estadual do Ceará (Uece), no bairro Itaperi, Maria Margarida, 19, estava acompanhada do pai, o entregador Paulo Sérgio, 41 Foto: Agência O Globo

Uma das primeiras candidatas a chegar à sede da Universidade Estadual do Ceará (Uece), no bairro Itaperi, Maria Margarida, 19, estava acompanhada do pai, o entregador Paulo Sérgio, 41 Foto: Agência O Globo

Na porta da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), na zona norte da cidade, a vendedora ambulante Virgínia Lopes, de 60 anos, vê o dia da prova como uma oportunidade de lucro Foto: Agência O Globo

Na porta da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), na zona norte da cidade, a vendedora ambulante Virgínia Lopes, de 60 anos, vê o dia da prova como uma oportunidade de lucro Foto: Agência O Globo

Pedro Edmilson, de apenas 16 anos, tentará o vestibular pela primeira vez. Aluno do colégio estadual Adauto Bezerra, ele está no 2° ano do Ensino Médio e diz que fará a prova pela experiência Foto: Agência O Globo

Pedro Edmilson, de apenas 16 anos, tentará o vestibular pela primeira vez. Aluno do colégio estadual Adauto Bezerra, ele está no 2° ano do Ensino Médio e diz que fará a prova pela experiência Foto: Agência O Globo

Prestanto a prova do Enem pela primeira vez, em Porto Alegre, no dia seguinte à celebração da Consciência Negra, a estudante Carol Mendes, de 18 anos, ao lado da amiga Suellen Saraiva, lamenta a barreira de entrada para o mercado de trabalho: "Só faculdade não adianta. Empresas ainda discriminam" Foto: Patrícia Comunello / Agência O Globo

Prestanto a prova do Enem pela primeira vez, em Porto Alegre, no dia seguinte à celebração da Consciência Negra, a estudante Carol Mendes, de 18 anos, ao lado da amiga Suellen Saraiva, lamenta a barreira de entrada para o mercado de trabalho: "Só faculdade não adianta. Empresas ainda discriminam" Foto: Patrícia Comunello / Agência O Globo

Sara Carla, 20, tentará o Enem pela terceira vez. Pretende cursar Medicina, e não tem sequer uma segunda opção em vista. "Vou tentar até conseguir" Foto: Agência O Globo

Sara Carla, 20, tentará o Enem pela terceira vez. Pretende cursar Medicina, e não tem sequer uma segunda opção em vista. "Vou tentar até conseguir" Foto: Agência O Globo

Hélio Lopes de Oliveira, 71 anos, que foi para a PUC-Minas. Ele é veterano em todos os sentidos. Desde 2012, Hélio tenta ingressar no ensino superior Foto: Ana Moreira / Agência O Globo

Hélio Lopes de Oliveira, 71 anos, que foi para a PUC-Minas. Ele é veterano em todos os sentidos. Desde 2012, Hélio tenta ingressar no ensino superior Foto: Ana Moreira / Agência O Globo

Voluntários incentivam candidatos no portão 5 da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Campos do Maracanã Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Voluntários incentivam candidatos no portão 5 da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Campos do Maracanã Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

BRASIL Rio de Janeiro (RJ) 21/11/2021 - Primeira prova do Enem 2021 - Entrada dos candidatos na UERJ - Foto de Márcia Foletto Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

BRASIL Rio de Janeiro (RJ) 21/11/2021 - Primeira prova do Enem 2021 - Entrada dos candidatos na UERJ - Foto de Márcia Foletto Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Candidatos ao Enem correm sob chuva para não ser atrasar para a prova na universidade UniCeub, em Brasília Foto: Cristiano Mariz/O Globo / Agência O Globo

Candidatos ao Enem correm sob chuva para não ser atrasar para a prova na universidade UniCeub, em Brasília Foto: Cristiano Mariz/O Globo / Agência O Globo

Para Rafael Pinna, diretor e professor do Colégio e Curso Ao Cubo, há uma questão sutil, mas muito importante no tema: a escolha da palavra 'garantia' na frase-tema.

— Há uma indicação de que o registro civil "garanta" a cidadania do indivíduo. Isso não é verdade em um país que sofre com a fome, a falta de moradia, o analfabetismo e a exclusão digital, entre tantos outros problemas sociais graves e excludentes. O registro civil é uma condição para a cidadania, mas não uma garantia dela. Por essa ótica, o tema comunica, de maneira sutil, mas assertiva, o trabalho do governo. A mensagem é: basta tirar o documento para que você tenha o que precisa para exercer a sua cidadania

Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH, diz que o tema é de fácil desenvolvimento pelos estudantes:

— É um tema bastante importante dentro do padrão do Enem e considerado tranquilo para o padrão dos alunos. É uma importante discussão, já que muitas pessoas não conseguem ainda ter acesso ao registro civil. A gente fala em analfabetismo digital, em desemprego, sendo que muitas pessoas não conseguem nem ter acesso aos seus direitos mais básicos, porque não são reconhecidas pelo Estado. É uma excelente discussão para toda a juventude do Brasil, há muitos argumentos e caminhos possíveis para a construção do texto — afirma.

A professora Elaine Antunes, responsável pelo curso Escreva, que há mais de 20 anos se dedica a ensinar técnicas de redação, observa que resolver a questão da identificação é um "importante desafio social".

— Nós já sabíamos que temas como meio ambiente ou sobre minorias dificilmente seria o da redação deste ano. Esses eram marcas do governo do PT. Mas eles souberam escolher um tema de interesse social grande, sem tocar em assuntos sensíveis do governo Bolsonaro. Acredito que foi uma escolha muito boa. A questão da falta de identificação civil é um grande problema social, que atinge milhares de brasileiros. As pessoas que tiveram auxílio durante a pandemia só conseguiram porque tinham documentos, mas muitas não tinham e sofreram mais. Então, resolver a questão da identificação é um importante desafio social. Seja para ter acesso a auxílio emergencial, à Bolsa Família, seja lá o nome que o programa tenha — afirmou.

'A cara do governo'

Na última edição da prova, o tema escolhido pelo Inep foi "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira", na versão impresa; e "O desafio de diminuir a desigualdade entre regiões no Brasil", na digital. A expectativa em relação ao tema e demais questões da prova deste ano era grande, sobretudo após as denúncias, de servidores do Insitituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de que haveria uma forte pressão ideológica no processo de formulação da prova. Em entrevista à imprensa durante a Expo 2020, em Dubai, o presidente Jair Bolsonaro disse que as questões da prova, este ano, começariam "a ter a cara do governo": 

— Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado — disse o presidente.

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Na última quarta-feira, Milton Ribeiro negou a interferência ideológica do governo no exame, esclarecendo que "a cara do governo" a que Bolsonaro se referiu era "no sentido de competência, honestidade e seriedade".

Avaliação da redação

A prova de redação do Enem exige dos candidatos a produção de um texto dissertativo-argumentativo. Em geral, o foco é em assuntos que transitam entre quatro esferas: social, tecnológica, cultural ou política.

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A correção da redação leva em cinco competências, cada uma com pontuação máxima de 200 pontos: domínio da escrita formal da língua portuguesa; compreender o tema e não fugir do que é proposto; selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação e respeito aos direitos humanos.

Temas anteriores

Confira os temas abordados nas redações do Enem nos últimos anos: 

O indivíduo frente à ética nacional (2009) 

O Trabalho na Construção da Dignidade Humana (2010) 

Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado (2011) 

O movimento migratório para o Brasil no século XXI (2012) 

Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil (2013) 

Publicidade infantil em questão no Brasil (2014) 

A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira (2015)

Caminhos para combater o racismo no Brasil (2016) 

Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil (2016) 

Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil (2017) 

Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet (2018) 

Democratização do acesso ao cinema no Brasil (2019)

O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira (2020)

O desafio de diminuir a desigualdade entre regiões no Brasil (2020 - Enem Digital)

 

 

Via O Globo.